quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

SAUDADE DA SAUDADE


 

                                                   
Tenho saudade de pitanga, amora,

 lírios, dálias, malvas, copos de leite...

 (Onde essas flores dos jardins de outrora?)

 De bom-bocado, bem-casados, canudinhos

 - não havia elaborados docinhos.

 Tenho saudade das brincadeiras de roda,

bola-queimada, pular corda, amarelinha,
- me dá foguinho? Vai no vizinho...

 O tempo passou bem depressa...

 A infância fugiu de mansinho.

Tenho saudade da esperança,

 verde como a relva macia.

 Dos sonhos, da confiança

 de ser feliz algum dia.

 ... Hoje, mamão papaya, cereja, melão...

 Frutas sofisticadas em cada estação.

 Cadê os sapatos de verniz, de pulseirinha

 (band-aid no calcanhar...) e os românticos

 boleros com que aprendíamos a dançar?

 Não havia pagode, forró, lambada...

 Éramos felizes com quase nada.

 Apraz-me saborear pitanga, amora,

 sentindo o gosto de meu ontem no agora.

 Tenho saudade da saudade

 que em meu coração florescia.

 Saudade da esperança

 de ser feliz alguma dia!

 

 Leonilda Spina

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

TEU ABRAÇO



Quando se abre teu largo sorriso
assim de repente, num doce improviso,
ouço trinar de aves, planger de sinos,
sussurrar de brisa, sopros divinos...

Quando se abre teu largo sorriso
e todo teu ser se inunda de luz,
fulguram auroras, murmuram cascatas,
teu rosto cativa, encanta, seduz!

Há uma meiguice estampada no olhar,
um carinho que reconforta e aquece...
- A paz que a alma sedenta vem buscar,
nesta vida de anseios e dura messe.

E é na prece que consigo me aquietar,
rogando prudência em tudo o que digo e faço,
pois tenho medo de sem querer... revelar
que adoro sentir o calor de teu abraço!



Leonilda Yvonneti Spina




AMOR MADURO

                                                    Trago n’alma matizes do amor vivido 
em auroras de sonhos e delírios... 
Trago também cicatrizes dos martírios, 
da saudade, solidão, ciúme, queixumes,
descaso, desilusão...
Ah! Em tantos mares naufraguei,
desarvorado barco, velejando esperança!
Ah! Velas içadas bailando
ao sopro de ilusões passadas!
Quanto amei!... Em quantos olhos mergulhei,
julgando-os sinceros espelhos d’alma!
Quantas batalhas enfrentei,
sofrido herói, mantendo a calma!
Banhava-me o sol os ombros nus.
Nua era a vida, de valores desprendida...
Altivo e forte, máscara nenhuma
na jovem face... Fagueira sorte!
Hoje, maduro, às voltas com pressão
econômica, arterial, colesterol, obesidade,
(coisas de meia-idade!...);
no espelho retratado um rosto (que desgosto!),
que é uma sombra do passado,
marcado por outonos e primaveras,
sócios, negócios, juros e decepções;
afogado em papéis, decibéis,
fax, computadores... Eis que me surpreendo
enternecido, adolescente, embevecido,
curtir um novo amor.
E é tamanha a emoção que me invade,
que chego a sentir calafrio dos pés à cabeça,
receando que esse amor tardio
por ventura tarde ou não apareça!
Atraso o relógio para não ficar tenso...
Cancelo compromissos de final de expediente.
E me preparo para estar inteiro:
- O nó na gravata, bom perfume, um ar brejeiro!...
Ela chega... chega também minha alegria!
Junto saímos... a noite é nossa!
Não há fossa, nem tristeza,
nada que roubar possa
do partilhar a beleza!
Entre abraços aliviamos nossos cansaços...
Olvidamos rugas e cicatrizes,
culpas, desculpas, descasos, tormentos...
 Assumindo o amor maduro
que renova os sentimentos,
concluímos que, na verdade:
- Se efêmera é a Felicidade,
eternos são os bons momentos!

Leonilda Spina

 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Força de um Olhar



Um olhar...
Ah! Que força tem um olhar!
Que vontade de mergulhar
em suas profundezas, extrair
as algas desse mar infinito.


Olhar bendito, que faz aflorar
os mais belos sentimentos.
Que momentos de êxtase,
ao contemplá-lo de leve
vislumbrando um breve
relance de cumplicidade.


É bem verdade que o coração
conhece emoções que a razão
ignora, naqueles instantes
em que o que conta é o “agora”,
é o sentir renovar-se a vida...


Ninguém duvida
que esse raro momento
de indizível encantamento
acontece sem querer...
Depois, querendo, tentamos

revivê-lo na saudade...
Ah! Esse calor que a alma invade,
esse reflorir do coração...
Chama que aquece

e rejuvenesce
quem da vida vive o outono.
Nesse abandono, nesse doce cismar
é possível sonhar com o impossível.
Mas... se não é permitido realizar

um anseio, não se pode conter as rédeas
do coração, esse corcel alado,
a cavalgar alheio às barreiras,
vencendo fronteiras
quando está emocionado.


Que força tem esse olhar bendito,
que nos leva a galopar no infinito!

    


Leonilda Spina

A MULHER E A FLOR


 Uma flor na lapela,
cravo, camélia,
miosótis ou rosa
deixa a mulher mais charmosa.
Há um quê de sofisticação
e simplicidade,
que lhe ressalta a feminilidade
e compõe um visual
romântico e moderno.
Com um terno bem talhado,
no vestido decotado
ou prendendo um lenço;
no pescoço, no  busto ou na cintura
a flor faz da mulher uma figura
atraente, especial,
por esse detalhe diferente,
pessoal.
A mulher se torna confiante
ao ostentar uma flor,
pois sabe
 que ela lhe realça a beleza
e inspira o amor.
É um pouco de sonho
que leva no vestir.
Quem sabe poderá ouvir
um galanteio cordial e sincero...
Além da vaidade, quando
 a mulher sai ornada com uma flor,
quer dizer “sim” ao amor
e à felicidade:
                                        - Eu quero!

Leonilda Spina

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